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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Os hérois da Independencia do Brasil na Bahia

Especialistas relatam a trajetória para a conquista da independência na BA

Matéria do site G1 http://glo.bo/LKzdC2

Independência no estado foi concretizada na manhã de 2 de julho de 1823.
Historiador diz que caboclos não traduzem luta da independência na Bahia. 


Jairo Gonçalves Do G1 BA


A Independência do Brasil foi declarada por D. Pedro I no dia 7 de setembro de 1822, entretanto, o exército português continuava resistindo e por este motivo dominava o território baiano, que declarou independência somente em 2 de julho de 1823.

Historiador Ricardo avalia 2 de Julho
como 'Dia da libertação nacional' (Foto:
Ricardo Carvalho/ Arquivo Pessoal)
Diante deste contexto, a luta pela libertação da Bahia do domínio português ganha força e, como afirma o historiador da Universidade Federal da Bahia Ricardo Carvalho, o processo de luta na Bahia representa o rompimento com a presença militar portuguesa. “O fator determinante para o início da luta está ligado ao fato de que as tropas portuguesas instaladas na Bahia não aceitaram a tutela de D. Pedro I após a declaração unilateral de independência [realizada no dia 7 de setembro de 1822]”, afirma.
Ricardo Carvalho também cita a situação econômica da época e o passado de lutas no estado baiano como propulsores do movimento de independência.
Conflito
Entre os motivos que já incitavam a população baiana e o exército brasileiro contra o domínio português estava a insatisfação com a nova junta de governo que era administrada pelo brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo e que foi instituída em fevereiro de 1822. A posição do novo governador da Bahia, que se declarava fiel a Portugal, não agradou a população, contribuindo para a disputa do território e luta pela independência.
O novo governador da época, Madeira de Melo, na tentativa de impor a sua autoridade, resolveu inspecionar as infantarias, que em sua maioria eram brasileiras, e essa atitude deu início aos primeiros conflitos no dia 19 de fevereiro de 1822 nas proximidades do Forte de São Pedro. Em Salvador, locais como Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora se tornaram os principais campos de batalha na luta pela libertação.
Foi exatamente no dia 19 de fevereiro que tropas portuguesas invadiram o Convento da Lapa alegando que havia combatentes baianos escondidos no local. Para proteger a tropa, a abadessa Sóror Joana Angélica tentou impedir a entrada dos portugueses no Convento e acabou ferida no peito por uma baioneta e morreu no dia seguinte.
A luta pela independência consolidou o nome de Joana Angélica e outras personalidades que participaram dos conflitos que resultaria na derrota dos portugueses. Esses personagens ficaram conhecidos como “heróis da independência”. Para Ricardo Carvalho, a ideia dos “heróis da independência” está ligada a uma necessidade de personalização da história do que a uma intensa participação ou possível demanda da luta quando ela aconteceu. “De qualquer forma eles representam uma expressão dos vários setores que lutaram. O Corneteiro Lopes é a alma irreverente do baiano. Maria Quitéria, que considero a mais 'útil', a nossa coragem de transgredir e Joana Angélica responde ao nosso lado místico”, relata.
Cabocla na independência da Bahia (Foto: Imagem/ TV Bahia)Tradicionalmente, caboclo é homenageado nos
festejos da independência (Foto: Imagem/ TV Bahia)
Participação do interior
Com a chegada de novas tropas para o exército do governador português, Madeira de Melo, em março de 1822, tropas baianas deixam a capital e fogem para o interior do estado, principalmente no recôncavo baiano, como Cachoeira, São Francisco do Conde e Santo Amaro. “Cachoeira é referência até hoje no recôncavo pela posição geográfica estratégica e pela questão econômica. A atitude insurrecta contra os portugueses deu a Cachoeira a vanguarda na luta na região”, ressalta Ricardo Carvalho.
Neste momento, a população favorece o reconhecimento do príncipe regente D. Pedro I e os intensos conflitos ocorreram em Cachoeira chegam a outras cidades do recôncavo e a Salvador.
No dia 25 de junho de 1823, a população homenageava D. Pedro I na Vila de Cachoeira quando foi atacada por cerca de 30 marujos que dispararam tiros de canhão a partir de um barco que estava parado no Rio Paragaçu. Depois de três dias de confronto, os brasileiros conseguiram tomar o barco e prender os portugueses, evento que marca o desligamento da Vila do domínio da Corte Portuguesa. Por isso, todo dia 25 de junho a capital da Bahia é transferida para a cidade de Cachoeira em reconhecimento histórico pelos feitos da cidade em prol do país.
A ação dos revoltosos também ganha destaque com a criação de um governo interino que passou a administrar a partir da Vila de Cachoeira e a resistência contra o governo de Madeira de Melo passa a ser coordenada por Miguel Calmon du Pin e Almeida.
Após algumas lutas e forte resistência dos defensores da Independência e apoio do militar britânico Thomas Cochrane, as tropas portuguesas foram derrotadas na madrugada do dia 2 de julho de 1823 e a data tornou-se marco da Independência do Brasil na Bahia. Após constatar a vitória, as tropas brasileiras começaram a comemorar na “Estrada das Boiadas”, que ficava na entrada da cidade e hoje é conhecida como Rua Lima e Silva, que fica no bairro da Liberdade. Inclusive, o bairro foi batizado com o nome “Liberdade” para que fizesse referência ao desejo dos baianos na época e que tinha se concretizado, a busca pela “Liberdade”.Entre os meses de maio e junho de 1822 chega ao Rio de Janeiro o general francês Pierre Labatut, conhecido com Pedro Labatut, que foi admitido como Brigadeiro do “Exército Pacificador” em julho do mesmo ano e, meses depois, em novembro de 1822, e sob a ordem de D. Pedro I confronta os portugueses na Batalha de Pirajá, realizada na Bahia. A luta vencida pelas tropas brasileiras contribuiu para a deflagração da Independência na Bahia em 2 de julho de 1823. Ao falar sobre a formação do Exército brasileiro, o historiador Ricardo Carvalho destaca que as tropas eram formadas pelo povo que “compulsoriamente ou voluntariamente” aderiu às brigadas, mas ele ressalta que toda a liderança sempre foi exercida pelas elites aristocráticas da época.
Ricardo Carvalho comenta que na época houve pouca repercussão da vitória brasileira no território baiano. “Houve pouco revérbero nacional naquele momento, meses depois o Império recém-instalado reconheceu o papel dos baianos e houve inclusive homenagens e honrarias”.
Sobre uma possível mudança na data de comemoração da Independência do Brasil, que hoje é celebrada em 7 de setembro, para o dia 2 julho, o historiador apenas comenta. “Gosto da ideia de chamar o 2 de julho de Dia da Libertação Nacional”.
Historiador Luís Henrique avalia que negros mereciam
destaque nas homenagens pela independência
(Foto: Jairo Gonçalves/ G1)
Símbolos da Independência
Para o historiador e autor do livro “A Independência do Brasil na Bahia”, publicado em 1982, Luís Henrique Dias Tavares, o processo de Independência do Brasil na Bahia tem um equívoco nas homenagens que são dispensadas ao caboclo e à cabocla durante os festejos. Segundo ele, a imagem dos indígenas acaba ganhando um destaque que não corresponde ao que de fato aconteceu durante as lutas que resultaram na Independência do Brasil na Bahia na madrugada do dia 2 de julho de 1823.
Os personagens que deveriam ocupar o lugar mais alto ou de destaque no desfile cívico, segundo o historiador, são os lavradores e ex-escravos que pegaram em armas e consolidaram a independência no estado baiano. “Ficou bonito fazer o 2 de julho com as imagens dos caboclos e índios em geral. Era mais fácil e menos conflituoso. Imagina homenagear a população negra naquela época, mas foram essas pessoas responsáveis pelo avanço do nosso exército em meio a várias adversidades e muitos acabaram morrendo em decorrência disso”, afirma.
O historiador reconhece a participação dos indígenas na luta da independência, mas pontua que uma pequena parte desta população foi para a luta armada. “O nosso exército entra em Salvador faminto e a grande contribuição dos índios foi justamente prover alimentos para os soldados”.
Ele ainda comenta que os motivos de confronto entre os índios e o colonizador português estavam relacionados a questões como demarcação de território e o reconhecimento de que os índios eram os donos das terras brasileiras e que não havia uma luta política pela independência no país.
Luís Henrique ressalta que deve haver uma correção no desfile e para isso é necessário reconhecer o papel do negro na Independência do Brasil na Bahia. “A imagem do caboclo não é suficiente para traduzir o instante da luta de 1823”, comenta.

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