Retirado do site: http://www.porvir.org/especiais/socioemocionais/#prettyPhoto
Despertar o interesse e garantir a aprendizagem do estudante do ensino médio estão entre os maiores desafios da educação brasileira. O mais recente alerta veio com a divulgação dos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2013, em que o país repetiu os 3,7 registrados em 2011 e ficou abaixo da meta proposta pelo MEC (Ministério d Educação) de 3,9. Apesar do quadro desolador, existem, sim, experiências que buscam virar a chave para dar sentido à experiência escolar e valorizar o aluno.
Foi diante desse cenário que o estado do Ceará começou a mudar a cara de suas escolas. Em 2009, levou aos colégios a metodologia do programa Com.Domínio Digital, realizado em parceria com o Instituto Aliança, que oferecia aulas de tecnologia da informação no contraturno escolar. Dois anos mais tarde, a Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc) percebeu a necessidade de realizar uma maior integração desses conteúdos à grade regular das escolas, após a Unesco divulgar um protótipo curricular que defendia o protagonismo estudantil, a interdisciplinaridade, o ensino baseado em projetos, a pesquisa e a abordagem de competências socioemocionais.
O primeiro passo foi pensar em um currículo que tivesse a cara da juventude. “A gente percebe que um fator crítico é a relação do profissional e da instituição com o jovem, sua visão de mundo e seus anseios”, diz Rogers Vasconcelos, coordenador de aperfeiçoamento pedagógico da Seduc. “Era importante que a história de vida dos alunos fosse pauta curricular. Estudantes tinham que ter espaço para conhecer suas características e habilidades sociais, para falar de ética, sexualidade e projeto de vida”, diz.
Por mais que precisasse de ajustes, esse novo desenho curricular não colocou tudo abaixo. Em vez disso, buscou articular o ensino das áreas de conhecimento com ciência, pesquisa e trabalho, entendidos como eixos integradores. Em 2012, a entrada dessas novas práticas na sala de aula da rede estadual foi noticiada pelo Porvir. Inicialmente, o projeto foi adotado por 12 escolas (oito em Fortaleza, duas na região metropolitana e duas no interior) que já participavam do Com.Domínio Digital. “Elas nos relatavam o quanto a metodologia do projeto fazia com que o estudante tivesse autoestima elevada, perspectiva positiva sobre a família e seu projeto de vida. Por isso, decidimos casar o Com.Domínio Digital e os protótipos [da Unesco] com o que a gente tentava implantar nas escolas”, afirma
Nascia ali o que ficou conhecido como “Núcleo Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais”. De acordo com Vasconcelos, a partir do momento em que o estudante é desafiado por um projeto, ele consegue enxergar a totalidade do que lhe é ensinado, ao contrário do que acontece quando se trabalham as disciplinas de forma isolada. “Quando desenvolve um projeto de pesquisa, o estudante pode aproveitar o que estudou em história, física e química. É vivendo a experiência da busca que ele consegue aprender de forma integrada”. Desde 2012, o programa mais que triplicou a quantidade de envolvidos, que já somam 25,6 mil estudantes em 87 escolas.
O ensino médio redesenhado no Ceará
Novo curso, novo aluno, novo professor
Para que a escola se apresentasse como um espaço para o aluno se manifestar e ter autonomia em seu próprio aprendizado, foi preciso olhar de uma outra maneira também para a formação de professores. Isso porque o professor do Núcleo exerce um papel de agente mobilizador e articulador dentro das escolas, atuando com os demais docentes e com a equipe gestora, formada por diretor e coordenadores pedagógicos.
Ao longo de 2012, equipes do Instituto Aliança e dos professores que deram o pontapé inicial dos núcleos desenvolveram atividades diversas, com foco em cinco grandes ações: 1) articulação de gestores, professores do Núcleo, professores da Escola, técnicos da Seduc; 2) criação e estruturação do material didático-pedagógico; 3) capacitação por imersão, continuada e em serviço 4) monitoramento e avaliação do processo e 5) sistematização da prática.
“A metodologia busca provocar no professor uma reflexão sobre suas práticas, crenças e sobre seu olhar diante de alunos com multiplicidade de sonhos e de desejos com os quais ele vai ter que conviver na escola”
O conteúdo oferecido pelo Núcleo é implantado gradativamente até completar o ciclo do ensino médio. São duas aulas semanais de duas horas para o Desenvolvimento de Práticas Sociais (DPS) acompanhadas de uma hora de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que facilitam a aquisição de habilidades digitais necessárias para a elaboração das pesquisas.
“A metodologia busca provocar no professor uma reflexão sobre suas práticas, crenças e sobre seu olhar diante de alunos com multiplicidade de sonhos e de desejos com os quais ele vai ter que conviver na escola”, explica Eveline Corrêa, coordenadora do Instituto Aliança. Segundo ela, o importante é que o docente entenda que isso também representa um ganho, e não um problema. “Se tentar pela força, nunca vai chegar a um diálogo genuíno”.
O caminho para inserção da nova metodologia também precisa
vencer alguns obstáculos. Dentro das próprias escolas, existem professores que
criticam a proposta que supostamente tira espaço de matérias cognitivas como
física e matemática e “do conteúdo para o Enem”. Além disso, o trabalho de
formação que é intencionalmente mais participativo e questionador, deixa alguns
com o “pé atrás”. “Eles começam o ano questionando, mas mudam quando chega a
época da apresentação das pesquisas e percebem os meninos mais motivados”, diz
Eveline.
Ao mesmo tempo em que tenta tirar o educador da “zona de
conforto”, a metodologia o abastece para garantir maior segurança, com matriz
curricular, fichas pedagógicas e planos de aula. Além do material teórico, a
formação docente é apoiada em dinâmicas de grupo, supervisão técnica e estudos
temáticos. Nas reuniões, discute-se, por exemplo, o papel da escola pública e
do ensino médio e os professores participam de experiências que depois
realizarão com seus alunos. Logo no terceiro encontro de formação, acontece o
exercício chamado “Memória fotográfica”, quando cada educador apresenta ao
grupo uma fotografia marcante de seu passado. “Essa atividade fala muito e
fortalece o pertencimento e a identidade, porque eles passam a ser reconhecidos
por aquilo em que se dizem fortes”, diz Eveline. Ao reproduzir a atividade com
seus aluno, o professor já “sentiu na pele” os seus resultados.
Ao mesmo tempo em que tenta tirar o educador da “zona de conforto”, a metodologia o abastece para garantir maior segurança, com matriz curricular, fichas pedagógicas e planos de aula. Além do material teórico, a formação docente é apoiada em dinâmicas de grupo, supervisão técnica e estudos temáticos. Nas reuniões, discute-se, por exemplo, o papel da escola pública e do ensino médio e os professores participam de experiências que depois realizarão com seus alunos. Logo no terceiro encontro de formação, acontece o exercício chamado “Memória fotográfica”, quando cada educador apresenta ao grupo uma fotografia marcante de seu passado. “Essa atividade fala muito e fortalece o pertencimento e a identidade, porque eles passam a ser reconhecidos por aquilo em que se dizem fortes”, diz Eveline. Ao reproduzir a atividade com seus aluno, o professor já “sentiu na pele” os seus resultados.
Por conta de experiências como essa, a professora Maria Flávia Coelho, do primeiro ano da escola João Mattos, se diz transformada. Ela conta que sempre se preocupou em inovar e “não deixar alunos parados”, mas essa formação específica para o Núcleo a ajudou a adotar um novo posicionamento na sala de aula. “A preocupação com o bem-estar do aluno e seu protagonismo era o que faltava. Hoje ainda dou aula de geografia em outra escola e percebo como mudei nas minhas ações”. A estratégia tem dado resultados com estudantes cada vez mais comunicativos e tomando a iniciativa para envolver os demais em debates e atividades em grupo. “Eu lembro da escola da Ponte, em Portugal, em que educadores atuam como colaboradores. Hoje em dia, não cabe mais o autoritarismo em sala de aula. Autoridade é importante, porém ter na cabeça que você é um colaborador muda a forma de ver o aluno. Você passa a respeitar, a entrar na vida do aluno e a entender por que ele não participou hoje, mas vai participar na próxima aula”.
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