O Brasil antes do Brasil
Quando os europeus nem pensavam em aportar por aqui, nosso território já era ocupado por diversas sociedades organizadas que pouco a pouco se tornam mais conhecidas
Débora Didonê (novaescola@atleitor.com.br) Colaborou Deca Pinto
A velha história dos índios não civilizados que habitavam nosso território quando os portugueses aqui
chegaram está dando lugar a outra sobre importantes civilizações. Pesquisas recentes mostram que o país tem um passado bem mais rico do que se pensava. Em vários sítios arqueológicos são estudados vestígios de antigos povos que remontam um cenário incrível. De norte a sul, nossas terras abrigavam grupos organizados em classes e que ocupavam espaços planejados.
Pesquisas arqueológicas feitas na Amazônia descrevem o auge de sociedades formadas por indígenas de diversas etnias que se tornaram auto-suficientes e criaram pólos de agricultura e cerâmica entre 1000 e 2000 A.P. antes do presente, datação usada por arqueólogos para se referir à pré-história que, nas Américas, segue divisão diferente do restante do mundo.
O homem se adaptava de modo sofisticado ao ambiente: usava a terra sem destruí-la e aumentava a biodiversidade, afirma o estudioso do alto Xingu Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida. Segundo ele, essas civilizações eram diferentes das de outras partes do mundo, mas nem por isso mais simples.
Hoje também se sabe mais sobre os sambaquis, comuns no litoral. Muito além de amontoados de conchas e restos mortais como são descritos , esses monumentos eram edificados para servir de moradia. Cai por terra, assim, a idéia de que nossos ancestrais faziam parte de tribos distribuídas a esmo pela f loresta. Entender como eram as sociedades antigas dá ao aluno a noção de identidade e cultura e faz com que ele reconheça que nossa história é bem anterior à ocupação européia, diz Ana Bergamin, professora e autora de livros didáticos, de São Paulo. Nesse mesmo sentido, estudos na área de Paleontologia revelam que há 10 mil anos habitavam áreas de todo o país animais de grande porte, como a preguiça-gigante. Com eles conviviam antepassados humanos, como Luzia. A mulher, cuja face com traços africanos foi reconstituída há dez anos, por meio do crânio, passou a ocupar as páginas dos livros de História, mostrando que não somos descendentes apenas de asiáticos. A humanidade evoluiu e sobreviveu a mudanças geológicas, criou seu espaço e gerou riquezas culturais e ecológicas, como a biodiversidade de hoje.
Assim como a pluralidade de plantas e a fértil terra preta da Amazônia não são obras divinas, o modo de vida dos ribeirinhos amazonenses não é uma invenção atual. Ambos são herança de uma ocupação humana milenar. Acreditase que diferentes partes da região, de Rondônia ao Pará, incluindo o baixo rio Negro, próximo a Manaus, já eram ocupadas 9 mil anos atrás. Esses povos sobreviviam da pesca, da coleta e da caça, provavelmente num contexto climático semelhante ao atual uma vez que um reaquecimento global fez aumentar as chuvas e o nível dos rios, causando cheias há 18 mil anos.
É possível que o processo de domesticação de inúmeras plantas hoje consumidas, como mandioca e pupunha, tenha sido iniciado pelos primeiros índios da região. Para chegar a essa conclusão sobre as formas antigas de cultivo, os estudiosos se baseiam também nas práticas atuais. As hortas presentes nos quintais das casas, por exemplo, já existiam ao redor das aldeias há cerca de mil anos. Para formá-las, os homens derrubavam somente matas secundárias, com árvores menores, já que dispunham apenas de machados de pedra, e não de metal, para abrir clareiras. Outra importante contribuição do homem pré-histórico é a terra preta, que não existia originalmente na Amazônia. Ela surgiu graças ao acúmulo contínuo de restos orgânicos há 4 mil anos.
Organização social
Os rastros de aldeias sedentárias, formadas por centenas de pessoas, datam de 3 mil anos atrás. O tamanho e a duração dos sítios arqueológicos ref letem mudanças nos padrões de ocupação do território, principalmente no que se refere à organização social. É preciso desmitificar a idéia de que a Amazônia era uma coisa só, diz o arqueólogo Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP). Entre os anos 400 e 1300, 40 mil habitantes ocuparam quase toda a ilha de Marajó, morando em casas de chão batido construídas sobre palafitas de terra, que costumavam ser maiores nas famílias mais abastadas. A constatação de que a figura da mulher era freqüentemente representada em divindades e peças como urnas funerárias leva os pesquisadores a crer que a sociedade tenha sido matrilinear, ou seja, de descendência materna. Isso não impede que homens tenham sido chefes, diz Denise Pahl Schaan, presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira.Enquanto o homem pescava, a mulher cuidava da aldeia, da roça e da produção de cerâmica (veja o infográfico abaixo). Estudos demonstram que as peças mais adornadas, como tangas destinadas a adolescentes, foram produzidas por pessoas com maior poder econômico. Elas foram encontradas somente em locais de cerimônias e moradias da elite, conta Denise, referência em pesquisa sobre Marajó. Nos séculos 16 e 17, europeus navegaram pelo rio Amazonas e descreveram aldeias com milhares de pessoas. Em várias delas, na Amazônia central, construíam-se montículos (espécie de palafita feita de terra preta e cacos de cerâmica).
As depressões de relevo ali encontradas são indícios de que eles serviam tanto para proteger casas contra alagamentos como para demonstrar poder, já que tinham tamanhos variados. Acredita-se que havia mão-de-obra específica, com divisão de tarefas, a serviço de alguém, diz o arqueólogo Eduardo Neves, que pesquisa a região. Embora os sepultamentos não sejam comuns nos montículos, restos funerários de um deles remetem à existência de uma elite. Havia chefes supremos, mas não reis nem Estados.
A terra preta hoje se mistura a centenas de cacos de cerâmica cujas variadas técnicas de produção revelam a presença simultânea de diferentes culturas. Isso pode comprovar também a ocorrência de conf litos entre aldeias, causados pela chegada de outros povos, diz Neves.
Esta informação se relaciona à anterior: áreas ocupadas no século 9 guardam sinais de valas artificiais com estacas, aparentemente usadas para defesa. Embora instabilidades políticas tenham gerado episódios de ocupação e o abandono de assentamentos, foram os europeus que exterminaram os índios em ataques e por meio da escravidão e da transmissão de doenças. Com isso, os sobreviventes foram para o interior. Em áreas próximas a rios densamente ocupadas na época hoje vivem caboclos que cultivam a terra dos sítios arqueológicos e pisam, diariamente, sobre as cerâmicas feitas pelos antepassados.
Sábias ocupações
No alto Xingu, arqueólogos e antropólogos contam com a ajuda dos índios kuikurus para mapear o espaço ocupado por seus ancestrais. Aldeias circulares, cercadas por valas artificiais e conectadas por estradas, formam uma estrutura que remete a uma civilização de 1,1 mil anos atrás.
A aldeia atual, em forma de anel, foi um dia um conjunto de oito a 12 aldeias cerca de dez vezes maior, como mostra o infográfico acima. "Esse povo, formado por grupos independentes integrados em uma nação, como os do atual Xingu, tinhanoções sofisticadas de Matemática e Engenharia", explica o arqueólogo americano Michael Heckenberger.
Essa antiga sociedade xinguana se caracterizava pelo vasto conhecimento de cartografia e astronomia. Assim como os europeus desenvolveram tecnologias inovadoras utilizando o ferro e o bronze, os nativos americanos incorporaram a cosmologia, o estudo da origem e evolução do universo. Exatamente como no império inca de Cuzco, o maior das Américas, afirma o pesquisador. Os índios do Xingu, porém, constituíram uma paisagem lateral contrária aos monumentos verticais típicos das civilizações clássicas cercada de muito verde. "Eles não desmatavam grandes áreas contíguas porque acreditavam ter parentesco com a floresta", conta Heckenberger. "Até hoje os kuikurus se dizem descendentes de árvores." As áreas abertas, enfim, eram exclusivas para os assentamentos e o cultivo de roças de mandioca e árvores frutíferas.
Bem longe dali, entre 10 mil e mil anos atrás, os sambaquis (do tupi-guarani tampa, marisco, e ki, amontoado) eram erguidos por comunidades litorâneas também para demarcar território. Mas havia outras funções para essas pirâmides de areia e conchas. "Construídos em tempos diferentes por comunidades diversas, elas podiam servir de base para moradias ou cemitério", conta Flávio Calippo, arqueólogo subaquático do MAE-USP. No sambaqui Jabuticabeira 2, de Jaguaruna, a 157 quilômetros de Florianópolis, há 40 mil corpos.
"Pela localização e pela altura, os espaços também eram construídos para facilitar o controle do território e a obtenção de alimentos por meio da observação a distância", explica Judith Steinbach, do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, também em Santa Catarina. Já foram encontrados aproximadamente mil no país, incluindo os f luviais, constituídos por acúmulos de moluscos terrestres, como no Vale do Ribeira, em São Paulo. "Outros podem estar encobertos por restingas ou submersos por causa de variações climáticas", afirma Calippo.
Segundo o estudioso, oito sambaquis nessas condições estão sendo pesquisados na ilha do Cardoso, no litoral paulista. Espalhados sobre os monumentos, restos de animais marinhos indicam que os sambaquieiros dispunham de embarcações e variados artefatos de pesca. E ossos de tórax avantajados comprovam a existênciade ótimos nadadores nesse povo. Com aescassez de comida, erguiam-se novos sambaquis em outras áreas (ou ocupava-seum abandonado). Provavelmente a cultura dos tampakis foi suplantada pelospróprios tupis-guaranis, que introduzirama horticultura na região.
Terra de gigantes
Há 11 mil anos, em áreas formadas por vastos cerrados e sob um clima frio e seco, os primeiros grupos de homens do país tiveram o privilégio (ou não) de conviver com animais de grande porte hoje extintos, como a preguiça-gigante. Surgido na América do Sul há 30 milhões de anos e pertencente à família dos tatus e dos tamanduás, o animal evoluiu em mais de 500 tipos e ocupou todo o continente americano. Em 1996, depois de 160 anos de estudos, pôde-se enfim montar um esqueleto completo da preguiça-gigante graças à ossada encontrada na Chapada Diamantina, na Bahia. No local havia também ossos de tigres-dentes-de-sabre e mastodontes.
O achado possibilitou conhecer a anatomia do maior exemplar de nossa megafauna, reconstituir seus músculos e, assim, obter informações sobre sua forma de locomoção. Diferentemente das preguiças atuais, comuns na Amazônia, as gigantes dificilmente subiam em árvores, já que tinham de 3 a 6 metros de comprimento e chegavam a pesar 5 toneladas.
O aquecimento geológico ocorrido há 10 mil anos foi fatal para o mamífero (e todos os gigantes) e fez com que apenas as preguiças arborícolas se salvassem, refugiando-se nas f lorestas tropicais. Por isso, está descartada a hipótese de que a megafauna tenha sido extinta por grupos humanos, que não dispunham de tecnologia para isso. Eles foram os únicos a testemunhar a realidade do que hoje se apresenta em ossos dispersos, diz o palentólogo Cástor Cartelle no filme O Brasil da Pré-história O Mistério do Poço Azul, já exibido na Europa. Isso não quer dizer, porém, que eles não caçassem animais grandes farta fonte de alimento.
Essas mudanças no cenário e nas formas de ocupação das terras do país evidenciam uma pré-história diferente do que apontam os europeus para quem as civilizações surgiram apenas depois da escrita. Resultado de anos de estudo, elas merecem ser levadas à sala de aula e compartilhadas com seus alunos.
chegaram está dando lugar a outra sobre importantes civilizações. Pesquisas recentes mostram que o país tem um passado bem mais rico do que se pensava. Em vários sítios arqueológicos são estudados vestígios de antigos povos que remontam um cenário incrível. De norte a sul, nossas terras abrigavam grupos organizados em classes e que ocupavam espaços planejados.
Pesquisas arqueológicas feitas na Amazônia descrevem o auge de sociedades formadas por indígenas de diversas etnias que se tornaram auto-suficientes e criaram pólos de agricultura e cerâmica entre 1000 e 2000 A.P. antes do presente, datação usada por arqueólogos para se referir à pré-história que, nas Américas, segue divisão diferente do restante do mundo.
O homem se adaptava de modo sofisticado ao ambiente: usava a terra sem destruí-la e aumentava a biodiversidade, afirma o estudioso do alto Xingu Michael Heckenberger, da Universidade da Flórida. Segundo ele, essas civilizações eram diferentes das de outras partes do mundo, mas nem por isso mais simples.
Assim como a pluralidade de plantas e a fértil terra preta da Amazônia não são obras divinas, o modo de vida dos ribeirinhos amazonenses não é uma invenção atual. Ambos são herança de uma ocupação humana milenar. Acreditase que diferentes partes da região, de Rondônia ao Pará, incluindo o baixo rio Negro, próximo a Manaus, já eram ocupadas 9 mil anos atrás. Esses povos sobreviviam da pesca, da coleta e da caça, provavelmente num contexto climático semelhante ao atual uma vez que um reaquecimento global fez aumentar as chuvas e o nível dos rios, causando cheias há 18 mil anos.
É possível que o processo de domesticação de inúmeras plantas hoje consumidas, como mandioca e pupunha, tenha sido iniciado pelos primeiros índios da região. Para chegar a essa conclusão sobre as formas antigas de cultivo, os estudiosos se baseiam também nas práticas atuais. As hortas presentes nos quintais das casas, por exemplo, já existiam ao redor das aldeias há cerca de mil anos. Para formá-las, os homens derrubavam somente matas secundárias, com árvores menores, já que dispunham apenas de machados de pedra, e não de metal, para abrir clareiras. Outra importante contribuição do homem pré-histórico é a terra preta, que não existia originalmente na Amazônia. Ela surgiu graças ao acúmulo contínuo de restos orgânicos há 4 mil anos.
Organização social
Os rastros de aldeias sedentárias, formadas por centenas de pessoas, datam de 3 mil anos atrás. O tamanho e a duração dos sítios arqueológicos ref letem mudanças nos padrões de ocupação do território, principalmente no que se refere à organização social. É preciso desmitificar a idéia de que a Amazônia era uma coisa só, diz o arqueólogo Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP). Entre os anos 400 e 1300, 40 mil habitantes ocuparam quase toda a ilha de Marajó, morando em casas de chão batido construídas sobre palafitas de terra, que costumavam ser maiores nas famílias mais abastadas. A constatação de que a figura da mulher era freqüentemente representada em divindades e peças como urnas funerárias leva os pesquisadores a crer que a sociedade tenha sido matrilinear, ou seja, de descendência materna. Isso não impede que homens tenham sido chefes, diz Denise Pahl Schaan, presidente da Sociedade de Arqueologia Brasileira.Enquanto o homem pescava, a mulher cuidava da aldeia, da roça e da produção de cerâmica (veja o infográfico abaixo). Estudos demonstram que as peças mais adornadas, como tangas destinadas a adolescentes, foram produzidas por pessoas com maior poder econômico. Elas foram encontradas somente em locais de cerimônias e moradias da elite, conta Denise, referência em pesquisa sobre Marajó. Nos séculos 16 e 17, europeus navegaram pelo rio Amazonas e descreveram aldeias com milhares de pessoas. Em várias delas, na Amazônia central, construíam-se montículos (espécie de palafita feita de terra preta e cacos de cerâmica).
As depressões de relevo ali encontradas são indícios de que eles serviam tanto para proteger casas contra alagamentos como para demonstrar poder, já que tinham tamanhos variados. Acredita-se que havia mão-de-obra específica, com divisão de tarefas, a serviço de alguém, diz o arqueólogo Eduardo Neves, que pesquisa a região. Embora os sepultamentos não sejam comuns nos montículos, restos funerários de um deles remetem à existência de uma elite. Havia chefes supremos, mas não reis nem Estados.
A terra preta hoje se mistura a centenas de cacos de cerâmica cujas variadas técnicas de produção revelam a presença simultânea de diferentes culturas. Isso pode comprovar também a ocorrência de conf litos entre aldeias, causados pela chegada de outros povos, diz Neves.
Esta informação se relaciona à anterior: áreas ocupadas no século 9 guardam sinais de valas artificiais com estacas, aparentemente usadas para defesa. Embora instabilidades políticas tenham gerado episódios de ocupação e o abandono de assentamentos, foram os europeus que exterminaram os índios em ataques e por meio da escravidão e da transmissão de doenças. Com isso, os sobreviventes foram para o interior. Em áreas próximas a rios densamente ocupadas na época hoje vivem caboclos que cultivam a terra dos sítios arqueológicos e pisam, diariamente, sobre as cerâmicas feitas pelos antepassados.
Sábias ocupações
Clique para ver os infográficos A força feminina e Moradia nas alturas. Infografia: Alessandro Meiguins, Sattu e Luiz Iria. Foto: Marcelo Zocchio.
A aldeia atual, em forma de anel, foi um dia um conjunto de oito a 12 aldeias cerca de dez vezes maior, como mostra o infográfico acima. "Esse povo, formado por grupos independentes integrados em uma nação, como os do atual Xingu, tinhanoções sofisticadas de Matemática e Engenharia", explica o arqueólogo americano Michael Heckenberger.
Essa antiga sociedade xinguana se caracterizava pelo vasto conhecimento de cartografia e astronomia. Assim como os europeus desenvolveram tecnologias inovadoras utilizando o ferro e o bronze, os nativos americanos incorporaram a cosmologia, o estudo da origem e evolução do universo. Exatamente como no império inca de Cuzco, o maior das Américas, afirma o pesquisador. Os índios do Xingu, porém, constituíram uma paisagem lateral contrária aos monumentos verticais típicos das civilizações clássicas cercada de muito verde. "Eles não desmatavam grandes áreas contíguas porque acreditavam ter parentesco com a floresta", conta Heckenberger. "Até hoje os kuikurus se dizem descendentes de árvores." As áreas abertas, enfim, eram exclusivas para os assentamentos e o cultivo de roças de mandioca e árvores frutíferas.
Bem longe dali, entre 10 mil e mil anos atrás, os sambaquis (do tupi-guarani tampa, marisco, e ki, amontoado) eram erguidos por comunidades litorâneas também para demarcar território. Mas havia outras funções para essas pirâmides de areia e conchas. "Construídos em tempos diferentes por comunidades diversas, elas podiam servir de base para moradias ou cemitério", conta Flávio Calippo, arqueólogo subaquático do MAE-USP. No sambaqui Jabuticabeira 2, de Jaguaruna, a 157 quilômetros de Florianópolis, há 40 mil corpos.
"Pela localização e pela altura, os espaços também eram construídos para facilitar o controle do território e a obtenção de alimentos por meio da observação a distância", explica Judith Steinbach, do Museu Arqueológico de Sambaqui de Joinville, também em Santa Catarina. Já foram encontrados aproximadamente mil no país, incluindo os f luviais, constituídos por acúmulos de moluscos terrestres, como no Vale do Ribeira, em São Paulo. "Outros podem estar encobertos por restingas ou submersos por causa de variações climáticas", afirma Calippo.
Segundo o estudioso, oito sambaquis nessas condições estão sendo pesquisados na ilha do Cardoso, no litoral paulista. Espalhados sobre os monumentos, restos de animais marinhos indicam que os sambaquieiros dispunham de embarcações e variados artefatos de pesca. E ossos de tórax avantajados comprovam a existênciade ótimos nadadores nesse povo. Com aescassez de comida, erguiam-se novos sambaquis em outras áreas (ou ocupava-seum abandonado). Provavelmente a cultura dos tampakis foi suplantada pelospróprios tupis-guaranis, que introduzirama horticultura na região.
Terra de gigantes
Clique para ver os infográficos Noções cartográficas e Engenharia praieira. Infografia: Alessandro Meiguins, Sattu e Luiz Iria. Foto: Marcelo Zocchio.
O achado possibilitou conhecer a anatomia do maior exemplar de nossa megafauna, reconstituir seus músculos e, assim, obter informações sobre sua forma de locomoção. Diferentemente das preguiças atuais, comuns na Amazônia, as gigantes dificilmente subiam em árvores, já que tinham de 3 a 6 metros de comprimento e chegavam a pesar 5 toneladas.
Essas mudanças no cenário e nas formas de ocupação das terras do país evidenciam uma pré-história diferente do que apontam os europeus para quem as civilizações surgiram apenas depois da escrita. Resultado de anos de estudo, elas merecem ser levadas à sala de aula e compartilhadas com seus alunos.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
Arqueologia da Amazônia, Eduardo Góes Neves, 88 págs., Ed. Jorge Zahar, tel. (21) 2108-0808, 22 reais
Arte Rupestre na Amazônia, Edithe Pereira, 245 págs., Ed. Unesp, tel.(11) 3242-7171, 170 reais
Brasil Rupestre, Marcos Jorge, André Prous e Loredana Ribeiro, 272 págs., Ed. Zencrane Filmes,tel. (41) 3023-3289, 150 reais
O Povo de Luzia, Walter Alves Neves e Luís Beethoven Pilo, 336 págs., Ed. Globo, tel. (11) 6725-8867,32 reais
INTERNET
Conheça a cultura marajoara
No site Arqueologia Brasileira há informações sobre alguns dos principais sítios do país.
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Arqueologia da Amazônia, Eduardo Góes Neves, 88 págs., Ed. Jorge Zahar, tel. (21) 2108-0808, 22 reais
Arte Rupestre na Amazônia, Edithe Pereira, 245 págs., Ed. Unesp, tel.(11) 3242-7171, 170 reais
Brasil Rupestre, Marcos Jorge, André Prous e Loredana Ribeiro, 272 págs., Ed. Zencrane Filmes,tel. (41) 3023-3289, 150 reais
O Povo de Luzia, Walter Alves Neves e Luís Beethoven Pilo, 336 págs., Ed. Globo, tel. (11) 6725-8867,32 reais
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